O que é psicanálise e qual a função de um psicanalista?

um profissional segurando uma prancheta com a mão direita e uma caneta com a mão esquerda. Ao fundo, desfocado, os pés de uma pessoa deitada num divã

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um profissional segurando uma prancheta com a mão direita e uma caneta com a mão esquerda. Ao fundo, desfocado, os pés de uma pessoa deitada num divã

Introdução

Você é constituído pelos aspectos físico e psicológico. Eles acabam que define seu modo de pensar, agir e sentir. São características específicas que, juntas, a torna uma pessoa diferente de todas as outras. Você conhece muito bem essas características sabendo as que não te agradam e as que simplesmente adora e não trocaria por nada. O que torna fácil identificar as partes boas e as que não são tão boas assim; as que você gosta e as que detesta.

Aparentemente você se conhece bem e isto está claro para você. Porém, nem tudo é tão claro assim quando falamos de nós mesmos. Apesar de algumas coisas serem bem conhecidas outras acabam passando desapercebidas. Quando falo que você não conhece algo sobre você mesmo pode soar estranho, mas não é e vou explicar o motivo. A expressão “ninguém conhece mais de você do que você mesmo” pode ser verdade quando se trata de seu corpo físico, mas para o psicológico ela não representa muito bem a realidade.

Para exemplificar, você pode perceber situações em que dá alguns escorregões e fala uma palavra quando queria dizer outra, ou manifesta algo que está longe de ser o que queria dizer, mas quando viu já disse… Ou ainda, quando age de maneira que não gostaria e mesmo assim continua repetindo a mesma coisa (ainda que a deteste) por várias vezes na vida. É uma força maior e quase impossível de controlar. Surge quando menos se espera. Parece até uma invasão…

 

Será que realmente você se conhece?

Diante isso, será que podemos continuar dizendo que você realmente se conhece?

Não se preocupe se a resposta for não. Pois, apesar de estranho, tudo isso é normal em qualquer pessoa. E, a razão disso é que nessa dimensão psicológica existe um elemento responsável por não permitir que você tenha essa clareza: o inconsciente.

O inconsciente é como ter um outro ser morando dentro de você. É quase um intruso, mas é parte integral de sua essência. A diferença é que ele tem uma maneira diferente de se apresentar e a gente não está acostumado com esse tipo esquisito de se expressar. Estamos acostumados a explicar e entender tudo o que se passa com a gente da forma racional e a mais clara possível. Porém, o inconsciente tem uma vida e linguagem própria que não se entende com a forma lógica que conhecemos.

Esclarecendo melhor…. no inconsciente estão questões problemáticas ou não resolvidas do passado que ficam armazenadas e frequentemente vem à tona. Essas questões aparecem de forma meio oculta durante seus comportamentos, atitudes, falas e em tudo o que faz e pensa elas podem surgir a qualquer momento. Esse aparecimento, que pode surgir a qualquer momento, é a forma do inconsciente repetir o problema que surgiu no passado na tentativa de corrigi-lo. 

Mas, o que o inconsciente tem a ver com a psicanálise?

Absolutamente tudo! E é justamente aqui que entra nosso tão famoso Freud! Sua parte nesta história foi descobrir como se conectar com esse jeitinho diferente de ser do inconsciente. Foi assim que, percebendo a forma certa de se comunicar com esse lado “irracional” do psicológico, que acabou nascendo a psicanálise.

A forma de “conversar” com esse inconsciente foi, aos poucos, se desenvolvendo até se tornar um método de tratamento e investigação psicológica. É aplicado quando se deseja investigar questões psicológicas que envolvem as emoções, sentimentos, fantasias e sonhos.

O que é psicanálise

O inconsciente pode ser percebido pelo psicanalista durante uma sessão de terapia. A sessão é praticamente uma conversa. À essa conversa é acrescentado um elemento fundamental: o método psicanalítico.

Como o inconsciente tem uma linguagem diferente, e o que o psicanalista faz é falar a linguagem dele, muitas vezes você vai achar que o terapeuta falou algo sem sentido ou até que não entendeu o que você disse. No entanto, o que ele está fazendo é falar a língua do inconsciente e isso pode parecer estranho.

Você também pode se interessar por: Tire todas suas dúvidas sobre terapia.

O que faz um psicanalista

O que o psicanalista faz é aplicar o método psicanalítico, ou seja, a técnica. O objetivo é quebrar uma rotina de pensamentos e gerar uma nova forma de pensar (a isso chamamos de ressignificar). A aplicação se dá por intervenções através de perguntas ou pontuações. É juntamente com elas e com o que você fala, que o psicanalista tem condições de compreender o real problema que está gerando sua angústia.

É por estas percepções que o torna capaz de decifrar alguns dos nós que te amarram e que fazem você agir, sentir e pensar da forma que faz mesmo sem querer. Assim, aponta coisas que estão acontecendo no seu inconsciente e que você não tinha uma percepção clara ou até mesmo estavam ocultas aos seus olhos. E, aos poucos você vai assimilando todas essas pontuações e percebendo coisas que até então não tinha talvez pensado.

Todo o processo discorre através de conversa durante as sessões. É durante essa conversa que as reflexões de sua história vão acontecendo. Refletir é um dos principais pontos da psicanálise que vai sendo desenvolvida a cada sessão onde o psicanalista tem o papel de te direcionar neste caminho.

Falar do meu problema a um amigo é a mesma coisa?

Não acredite nesta hipótese. Muita gente diz “por que vou pagar uma terapia se posso falar com meu amigo? Minha resposta: “Porque o seu amigo não tem técnica para acessar o conteúdo que está te angustiando”. Simples assim! Falar do seu problema com um amigo é fundamental pois, é um momento de troca e desabafo. Porém, somente a técnica tem condições de acessar o que realmente gerou sua angústia.

Na terapia, você tem a oportunidade de falar, ser ouvido e também de se ouvir. Isso mesmo! Por estar em um ambiente propício e, com o psicanalista direcionando a sessão, cria-se a oportunidade de você ouvir o que está falando. O que torna a terapia muito além de só um diálogo.

A psicanálise não substitui o amigo assim como o amigo não substitui a psicanálise. Eles simplesmente se completam! É por isso que conversar com um amigo é bem diferente do que conversar com um psicanalista. Não quer dizer que a conversa do amigo deva ser substituída pela conversa com o psicanalista, de forma alguma! É importante conversar com um amigo também. Isso faz bem e deve ser preservado. Uma coisa não exclui a outra mas se completam.

Para quem serve a psicanálise

Para qualquer pessoa que está se sentido angustiada, esquisita, com desconforto emocional – seja no trabalho, no ambiente familiar, nas relações amorosas ou de amizade. Serve também para quem se sente desanimado, sem energia para viver ou que está passando por alguma doença de origem psicológica: fibromialgia, alergia alimentar, síndrome do intestino irritado, enxaqueca, gastrite, infertilidade, estresse… são alguns exemplos. E também para quem quer conquistar autoconhecimento e ganhar mais qualidade de vida.

A psicanálise faz sentido para todas essas situações, por certo, sua contribuição vai além disso. Tem um papel importante para ajudar a destacar aquilo que te torna uma pessoa peculiar, singular. É uma forma de descobrir suas características boas assim como as ruins. Muitas vezes características boas não são experienciadas pois podem gerar consequências indesejadas e por isso são deixadas de lado. Mesmo que uma qualidade seja muito desejada, você acaba deixando de lado por não ter coragem suficiente para bancar os problemas que podem surgir dessa escolha.

A psicanálise tem também a função de ajudar a se sentir forte o suficiente para bancar aquilo que fará toda a diferença em sua vida. Serve para expandir suas potencialidades e viver de acordo com quem realmente é. Por fim, acaba sendo uma forma de reforçar a autoestima.

Portanto, a psicanálise tem a função:

  • De descobrir suas fraquezas e te ajudar a aprender a lidar com elas,
  • Evidenciar suas forças para conquistar a coragem necessária para bancar o que não teve coragem até então.

Como se dá a Formação de um Psicanalista

Como Freud destacou, a formação se dá pela ordem do desejo, ou seja, o aspirante somente se tornará psicanalista quando cumprir os requisitos fundamentais de:

Análise própria: Um candidato a psicanalista deve também fazer terapia. É um requisito imprescindível, conforme sugeriu Freud. É através desse processo que terá a oportunidade de explorar seu próprio inconsciente e aprender a lidar com suas limitações. Somente então, terá condições de ajudar outras pessoas na exploração do inconsciente.

Supervisão: Analisar o inconsciente é um processo complexo. É preciso o auxílio de um profissional, normalmente mais experiente, para orientar e tirar as dúvidas que surgirem na aplicação da técnica nos casos clínicos;

Estudo da teoria: O psicanalista precisa conhecer a teoria para que tenha a possibilidade de trazer a ciência para a prática.

Lacan insere um quarto item que é:

A transmissão da psicanálise. Isso se dá no divã, na supervisão, na transmissão da teoria. Se dá também na participação em cartéis, congresso e comunidades com seus pares.

No fim das contas o processo de formação exige do profissional esforço para se analisar, se dedicar a supervisão, ao aprendizado da teoria e à constante manutenção teórica. É uma verdadeira dedicação. E, apesar desse esforço, é um processo que gera satisfação a ponto do psicanalista se apaixonar pela profissão.

É preciso ser psicólogo para ser psicanalista?

Não. Apesar de se estudar psicanálise na Faculdade de Psicologia, a psicanálise é uma teoria independente. Nasceu a partir de observações feitas pelo médico neurologista Sigmund Freud que afirmou não ter relação com a psicologia.

Como sei se a terapia está funcionando

A ideia de cura na psicanálise é diferente dos critérios médicos. Quando se procura um médico, por exemplo, por estar com gastrite, a cura se dá quando o tecido do estômago é regenerado. Neste caso um tecido regenerado é um tecido que volta ao estado anterior ao da gastrite. Isto é cura na medicina.

Já quem procura a psicanálise pode, por exemplo, estar com ansiedade. Neste caso a cura se dá quando você sente que superou o problema que estava gerando a ansiedade. Porém, ainda assim você continuará tendo ansiedade. Calma que explico!

A ansiedade sempre existirá dentro de cada um de nós. É parte da constituição humana. É ativada em momentos em situações específicas de preocupação, desentendimentos, por estar aprendendo uma coisa nova… e tantas outras situações. Ou seja, é sempre algo que está vivenciando e que gera um estado de tensão que tira você do equilíbrio físico e mental.

Esses momentos difíceis geram algo como se fosse um nó. O resultado desse nó é a ansiedade. O trabalho da psicanálise é tentar desatar esse nó. Uma vez desfeito você sente um grande alívio e não sentirá mais a ansiedade que sentia. Porém, isso não quer dizer que você nunca mais terá ansiedade, como comentei acima. Ela poderá retornar quando um novo problema surgir com a grande diferença de você estar preparado para isso assim, superar o problema será muito mais simples.

Portanto, a cura pode ser entendida como um trabalho de saída de um mal-estar para um prazer libertador.

Isso traz a sensação de não mais se sentir aprisionado – muito ao contrário – é a sensação de leveza e liberdade. É a sensação libertadora de como se estivesse saído de correntes presas ao calcanhar. Sendo esse o principal indicador do que podemos chamar de cura.

Portanto, uma das grandes conquistas da análise é se conhecer a ponto de conseguir manter uma certa distância daquilo que te faz se sentir mal. É aprendendo a lidar com esse mal estar que te faz livre a ponto de não ser mais refém de suas próprias mazelas.

Referências

Hermann, Fabio. O que é psicanalise – para iniciantes ou não. Editora Psique.

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