Vergonha
Vergonha é um sentimento comum a todos e nos acompanha desde criança. Estão presentes no dia a dia e se apresenta nos pensamentos de diferentes maneiras “tomara que não tenha muita gente”, “espero que não me perguntem nada”, “vou ficar aqui atrás pra que não me peçam para falar”…
Apesar de normal a vergonha pode alcançar um grau mais elevado a ponto de interferir e prejudicar as relações pessoais e profissionais.
Nesses momentos de incômodo fugir de uma exposição é a opção mais habitual. A exposição acaba sendo embaraçosa porque implica na possibilidade de outras pessoas perceberem algo que você não gostaria que fosse visto.
O que o envergonhado pensa
Quem sente vergonha acredita que possui características ruins, pouco atrativas ou até mesmo negativas que pode afastar quem percebe. Essas características podem estar relacionadas a uma parte do corpo que acha feia, a sua forma de falar, o que vão pensar sobre o que está falando, se vão achar desinteressante o que tem a compartilhar (mesmo não sendo!) ou ainda o que diz é tão básico que é besteira falar. Todos eles são atributos de depreciação de si e da baixa auto valorização, muito frequente em quem sofre com esse sentimento.
No entanto, a vergonha não aparece somente nos momentos de exposição mas também na maneira de como encara seus comportamentos. Por exemplo, vergonha do que poderia fazer e não fez, daquilo que fez no passado. Ou ainda, daquilo que fez e não aprovou. E por fim pode ter vergonha daquilo que deixou de fazer no passado.
É um sentimento doloroso desencadeado por acreditarmos que somos defeituosos, e portanto, indignos de amor e aceitação.
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Sinais da vergonha
Uma das grandes características físicas, e que podem ser facilmente notadas, é a vermelhidão que aparece nas bochechas, pescoço e orelhas. Mas não é só ela! Existe uma outra que é um pouco mais difícil de perceber: o suor nas mãos. Essa é mais uma característica que denuncia a vergonha por algo que apareceu e não gostaria que tivesse aparecido…
Outras situações denunciam o surgimento do desconforto e são expressas nas falas que embaralham, na cabeça que esquece o que queria dizer, nas palavras que não saem, no branco que dá…
O fato de se sentir inadequado, inapto ou simplesmente errado pode provocar o aparecimento de qualquer um desses sinais. Se comparar com os outros e sentir que não é bom o suficiente, derrotado, fracassado são também situações desencadeadoras desse sentimento.
Quando a Vergonha é percebida pelo outro
Todos eles se tornam ainda mais evidentes quando a outra pessoa percebe a vergonha que o outro está sentindo. Nesse momento a vergonha se torna ainda maior e, as mãos já suadas, se tornam ainda mais úmidas e as bochechas rosadas se intensificam com a sensação de uma chama subindo pelo rosto, pescoço e orelhas.
No entanto, nem sempre a outra pessoa sabe ou entendeu o motivo que levou o envergonhado a se sentir dessa forma. Somente ela entende e sabe seus motivos.
Então poderíamos dizer: “se os outros não sabem então porque a pessoa acaba ficando envergonhada?” Justamente porque ela aposta na possibilidade que o outro possa ter percebido.
Em casos mais graves há ainda o risco de isolamento social, dificuldades de se socializar e maior facilidade de desenvolver doenças psicológicas como depressão.
Quando surge a vergonha?
Surge quando a outra pessoa vê o que não deveria ter sido visto. Surge quando o pouco valor dado a si mesmo é exposto e o outro percebe. Esse momento é muito difícil e doloroso para quem não gostaria de expor algo que acredita ser falho ou imperfeito.
O grande problema nesse cenário é a sensação da impossibilidade de se defender. Uma vez que o fato já ocorreu.
Na verdade aquela característica desaprovada pela pessoa é tão vergonhosa que alguém percebê-la é o motivo de surgimento da vergonha. Ainda que para o outro essa característica possa significar uma qualidade ela não tem relevância quando quem se sentiu constrangido entende como negativo e desaprovável. Ela pensa: o que pensarão de mim vendo que essa parte do meu corpo é feia, ou que minha voz é muito grossa, será que vão pensar que sou folgada porque peguei carona?
A vergonha é paralisante e pode impedir a aparição em eventos sociais. Assim como a vergonha do próprio corpo pode impedir de frequentar esportes, usar algum tipo de roupa e frequentar lugares que torne público seu corpo.
A vergonha começa a existir logo cedo na infância. Quando passa a perceber que a outra pessoa a observa, ou seja, vê o que ela faz e diz. É o momento em que se vê sendo visto por um outro.
Há alguns fatores que podem ser agentes causadores da vergonha. Por exemplo, crianças com pais envergonhados, tendem a ser pessoas envergonhadas. Afinal, elas desenvolvem sua identidade e personalidade baseada na relação e reações dos pais.
Experiências na infância com pais, irmãos, primos e amigos de escola conta muito para o desenvolvimento da vergonha. Por exemplo, uma criança que era repreendida e sentia vergonha por falar demais, têm maior probabilidade de se tornar um adulto mais fechado e calado. Por isso, dar à criança atenção e importância ao seu mundo tem impactos consideráveis que repercutirão por toda a vida.
Ambiente negligente, abusivo, problemático e controlador também tende a desenvolver a vergonha como consequência dessa vivência não saudável.
A importância da valorização da criança
A vergonha de si começa na infância quando percebe que existe um terceiro que vê o que ela faz. Porém alguns episódios acabam por determinar o quanto que essa vergonha vai se fixar. O excesso de crítica é um deles e pode permitir que a criança entenda não ser merecedora de consideração e cuidados.
Não reconhecer que os desejos da criança favorece para que a criança se sinta desvalorizada em tudo o que fala e faz, provocando assim inibição de sua expressão e dano ao seu desenvolvimento.
Quando a criança é mais velha a experiência é entendida como menosprezo ou diminuição dos seus valores, e passa a sentir vergonha dos próprios sentimentos. E ainda em outros casos pode ser entendido como humilhação.
Diante da vergonha e humilhação a criança se sente reduzida e seu valor próprio fica ameaçado e com a sensação de ser inferior.
Quando sua demanda, qualidades ou fantasias não são reconhecidas, e portanto, desqualificadas a tendência é sentir vergonha e se fechar. Se fecha para se proteger das críticas e julgamentos das pessoas.
Dessa forma tende a se isolar e se esconder para não mostrar uma imagem que sente desqualificada. É uma maneira de evitar qualquer tipo de exposição para que esse lado negativo não seja exposto.
É uma experiência muito dolorosa. Ruim para quem sente e constrangedora para quem assiste.
Perfeição
A perfeição está intimamente ligada à vergonha. A imagem que a pessoa gostaria de passar é diferente daquela de como se vê. Por exemplo, tentar esconder uma parte do corpo que não gosta é uma demonstração de que não aceita sua realidade e acredita que essa parte do corpo deveria ser diferente, bonita, perfeita… dessa forma escolhe esconder o que acredita ser “imperfeito” do que compreender que aquela é sua realidade e tudo bem não ter o corpo de capa de revista.
Concluindo
Esconder e evitar expor o que considera negativo ou pouco atrativo em você é realmente maçante. É uma forma de viver que exige constante atenção e muita energia. É um verdadeiro desgaste emocional.
Mas não para por aí. As consequências vão além disso: ela não deixa você ser você mesmo! Por mais que queira (e isso realmente você deseja) é difícil se sentir livre para viver aquilo que de fato é! Aquilo que gostaria de mostrar com confiança e naturalidade. Todavia, a vergonha impede de mostrar a verdadeira pessoa que existe em você e que gostaria muito de ser vista e reconhecida por quem realmente é.
E por último, e tão importante quanto o que foi dito anteriormente, a vergonha está associada a frequente tentativa de atender as expectativas das pessoas com quem convive. É uma marca tão intensa que ofusca, e muitas vezes até exclui, seus verdadeiros desejos na forma de ser, expressar e viver a própria vida!
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Como Superar A Vergonha?
1 – Reconheça Seus Limites
Este é um ponto difícil mas ao mesmo tempo decisivo para o processo de superação. Reconhecer seus limites, dificuldades e medos que sustentam a vergonha é de suma importância. Dessa maneira, seja honesto com você mesmo e conheça seus limites. É importante saber quais são suas limitações e quais são os medos que você pode superar.
Não há nenhuma fraqueza nisso! Ao contrário, é um ato de coragem onde você reconhece que existem falhas em você assim como em qualquer ser humano.
2 – Analise Sua Infância
Rever e reconhecer que o sentimento da vergonha tenha sido construído em sua infância é um recurso importante para compreender sua origem. Porém, não se apegue a isso! Faz parte do processo do desenvolvimento da vergonha mas não é necessário culpar pais ou quem cuidou de você por isso, afinal, acredite, que eles fizeram o melhor que podiam por você. O importante nesse processo é você entender a origem mas seguir para a solução. A criação já aconteceu e agora é você o responsável por se aperfeiçoar para se sentir melhor. Então, nada de culpar ninguém.
3 – Reveja suas relações
Você pode até não perceber mas algumas relações são capazes de reforçar ainda mais sua vergonha. Pessoas que criticam, dizem coisas que te faça se sentir inferior são alguns exemplos. No entanto, nem precisa chegar a esse grau de aspereza para que te faça mal as vezes apenas apenas o fato de não reconhecer suas qualidades ou não te dar ouvidos ao que pensa e sente já é suficiente para colaborar com seus sentimentos negativos.
Mais do que nunca é importante estar atento às relações e buscar uma rede de vínculos saudável. Não permita que nenhuma relação, te faça se sentir mal consigo mesmo. Não é fácil abandonar relacionamentos mas para conseguir superar seus sentimentos de vergonha é essencial se afastar, nem que seja temporariamente até que você se sinta mais forte. Esteja atento!
4 – Busque Ajuda Psicológica
Por maior que seja sua vontade e esforço nem sempre é possível fazer essa tarefa sozinho. Especialmente em casos onde o dano foi significativo e afetou sua qualidade de vida. Procure por ajuda profissional.
Referências
– Vergonha, Sofrimento, dignidade. Marina K. Brinkey
– Freud, S. – Teoria Geral das Neuroses. Obras Completas Vol XVI 1917.
